O Rio Grande do Sul é conhecido por possuir muitas lendas e contos urbanos. Com uma herança folclórica rica, o que não faltam nas famílias gaúchas são interessantes histórias e mitos que vão sendo passados de geração para geração e criando uma atmosfera mágica em crianças e adultos.
Continuando as comemorações folclóricas do mês de junho e inspirados pelo clima de festa junina em casa, separamos para vocês algumas das melhores e mais famosas lendas gaúchas. Então acomode-se na cadeira e relaxe, que lá vem história!
O Negrinho do Pastoreio
Naquele tempo onde os campos ainda eram abertos, não havia entre eles nem divisas nem cercas, havia um estancieiro muito rico, cheio das pratarias, porém muito avarento e mau. Ele era dono de um escravo ainda pequeno, a quem todos chamavam de Negrinho. A este não deram padrinhos nem nome, por isso o Negrinho se dizia afilhado da Virgem Nossa Senhora.
Todas as madrugadas o Negrinho galopeava o parelheiro baio, depois preparava o chimarrão e a tarde sofria maus tratos do filho do patrão. Um dia, como forma de punir o Negrinho, o estancieiro o mandou de madrugada ao pastoreio, ordenando a pastorear por 30 dias uma tropilha de 30 tordilhos negros. Com medo de passar a noite no pasto sozinho, o menino pensou em Nossa Senhora, sua madrinha, e acalmou-se até cair no sono.
No meio da noite vieram os guaraxains ladrões e cortaram a corda que prendia o baio. O cavalo montou a galope, levando consigo toda a tropilha. Ao perceber que havia perdido todos os cavalos, o menino voltou à fazenda, foi até o oratório da casa e rezou para Nossa Senhora o ajudar. Pegou um toco de vela aceso e saiu de volta ao campo. Por coxilhas e canhadas, por todo lugar passava, a vela benta ia pingando cera no chão, e de cada pingo nascia uma nova luz. Os cavalos, então, começaram a relinchar. Ao encontrá-los, o Negrinho montou no baio e tocou por diante a tropilha de volta até a coxilha.
Ao clarear do dia o filho do estancieiro, ao encontrar o Negrinho dormindo na coxilha, espantou os cavalos fazendo com que fugissem novamente. Ao voltar à fazenda de mãos vazias, o estancieiro amarrou o Negrinho no palanque, e bateu tanto nele que o menino clamou à Virgem Maria por misericórdia! Até que de tanto sofrer morreu, ou pareceu morrer… O patrão então mandou colocar o corpo do Negrinho, banhado de sangue, em cima de um formigueiro para que as formigas o comessem.
Três dias depois, o senhor foi ao formigueiro para ver o que restava do corpo do menino. Qual foi seu espanto ao chegar perto e ver o Negrinho de pé, feliz e contente, em companhia de sua madrinha Virgem Maria e da tropilha perdida. Desde então, o Negrinho do Pastoreio é visto passeando com seus cavalos pelas coxilhas gaúchas. Daí por diante, quando qualquer cristão perde algo, reza ao Negrinho para que ache. E ele acha, mas só entrega a quem acende uma vela, cuja luz ele leva de presente à Virgem Nossa Senhora.
O Mistério da Lagoa dos Barros
A Lagoa dos Barros, na cidade de Osório/RS, é conhecida por ser o cenário de uma das mais misteriosas lendas gaúchas. As versões das histórias sobre o lugar são diversas: há quem acredite que por baixo das águas turvas e agitadas da lagoa existe uma cidade submersa, e que em dias de ventania é possível ouvir até mesmo sinos de uma igreja, que faz brotar a cruz de seu topo da água, em tempos de seca. Outros alertam que há um redemoinho no meio da lagoa, feito de areia movediça, que suga para seu centro qualquer um que nele se aventurar a entrar. Já outros creem que um feitiço amaldiçoou o lugar, e que por este motivo não há vida que resista em suas águas, supostamente inóspitas. Talvez por conta destas e outras crenças seja muito raro se ver pescadores pelo local.
Uma lenda, contudo, se destaca por ter sido baseada em uma história real: a lenda da noiva fantasma. Em 1940, a Lagoa de Barros foi cenário de um crime até hoje sem desfecho. A jovem Maria Luiza, de 17 anos, foi encontrada morta na lagoa. Para surpresa de todos, o corpo permanecia intacto, mesmo sendo estando submerso há mais de 2 dias. O suspeito principal do crime é seu namorado que, motivado por ciúmes, a teria assassinado e jogado seu corpo na lagoa com tijolos amarrados para que afundasse.
A partir de então, muitos caminhoneiros que passam pela rota da Freeway rumo às praias, que cruza a Lagoa dos Barros, afirmam ter visto uma mulher vestida de branco pela beira da estrada ou dançando sob as águas da lagoa. Outros dizem ter dado carona para uma jovem que misteriosamente desaparece no meio da viagem. É comum que os populares atribuam a causa de muitos dos acidentes à aparição da misteriosa mulher de branco.
Mito ou verdade, o que se sabe é que a população local leva a lenda muito a sério. Inclusive muitas pessoas que fazem uso da Lagoa têm como costume levar oferendas à noiva fantasma, como brincos, batons e pulseiras, a fim prevenir-se e demonstrar respeito a ela.
A Lenda da Erva Mate
Reza a lenda que numa tribo de índios Guarani havia um velho guerreiro de nome Nhandubaí que, por conta da idade, não conseguia mais caçar, pescar ou guerrear. Era cuidado por sua filha mais nova Yari, uma jovem índia que dedicava sua vida a cuidar do pai com muito carinho.
De tempos em tempos, a tribo migrava para novas terras em busca de outras caças e melhores terrenos para plantar. Um dia a tribo decidiu partir de onde estava, mas sem forças para conseguir acompanhá-los, Nhandubaí acabou ficando para trás. Sem coragem de abandonar seu pai, Yari permaneceu com ele na antiga tribo.
Um dia, um estranho guerreiro viajante apareceu pedindo pousada. Foi muito bem recebido por Nhandubaí e Yari, que cantou para o viajante lindas canções de seu povo. Antes de partir, o guerreiro contou que era um enviado de Tupã (Deus) e, em gratidão pela hospitalidade, atenderia a um desejo. O velho Nhandubaí, ao lembrar-se de sua filha, disse ao viajante que gostaria de ter de volta sua força e vitalidade, para que Yari pudesse se livrar da responsabilidade de cuidar de seu pai e, finalmente, conseguisse seguir sua vida.
O enviado de Tupã entregou a Nhandubaí uma muda de árvore e disse “Quando esta árvore ‘Caá’ crescer, pegue seus galhos e passe as folhas pelo fogo. Depois, quebre-as em pedacinhos e ponham num porongo, derramando água quente por cima, e beba”. O viajante transformou, então, Yari em deusa dos ervais, protetora da raça Guarani, e partiu.
Quando Nhandubaí experimentou a bebida viu-se tomado milagrosamente por uma energia e ânimo que há muito não sentia. Com suas forças retomadas, pai e filha seguiram viagem ao encontro de sua tribo, levando consigo a planta da qual bebida tornou-se de consumo diário do povo Guarani.
Nomeada “Caá-i”, a bebida sagrada da hospitalidade dava aos índios energia e alegria de viver, tornando-se a melhor companhia nos momentos de solidão. A árvore erveira, por sua vez, foi nomeada de “Caá-Yari” em homenagem ao bom coração de Yari. E assim surgiu o Chimarrão, a saborosa bebida feita de folhas de erva-mate que os gaúchos tanto amam!
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E aí, o que achou das lendas? Conte para nós aqui embaixo nos comentários!
Essas são apenas algumas das muitas histórias que o rico folclore gaúcho possui. Que tal aproveitar e ouvir mais histórias como estas, acompanhado de um delicioso chimarrão ao pé da lareira do Zermatt Hotel? Estamos esperando por você! Agende sua reserva agora mesmo!
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